quarta-feira, 10 de agosto de 2011


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A televisão brasileira passou por dois momentos bem impactantes no decorrer dos últimos 50 dias. José Luiz Datena, conhecido por sua irreverência e por suas polêmicas transferências da emissora, voltou a protagonizar um embate envolvendo a Band e a Record.


Após oito anos na Band, onde comandou o "Brasil Urgente" e já havia passado pelo "São Paulo Acontece" em seus dois formatos (o noticiário e o esportivo), Datena aceitou deixar de ser a estrela da Band para tentar o mesmo na Record. Uma badalada contratação daquelas que Datena está acostumado, com direito a multas milionárias e irritação na antiga emissora.


De volta ao "Cidade Alerta", programa que comandou do final da década de 90 até o início dos anos 2000 na Record, José Luiz Datena elevou os índices de audiência em um primeiro momento e chegou a render 16 pontos em faixas que 9 já eram considerados satisfatórios e suficientes para que a grade não fosse alterada. Em seu início, a Record apresentou um "Cidade Alerta" enxuto, com poucas equipes de reportagem, usando e abusando de reprises. A lua de mel com o telespectador, que parecia ótima para o orçamento da emissora, durou pouco. À medida que o programa de Datena ganhava forma, equipes e estrutura, a audiência caía. Já não era mais interessante acompanhar às gritarias apimentadas com demagogia que foram marca do jornalista durante praticamente toda sua carreira.


O "Cidade Alerta" causou prejuízos quase que irreparáveis à Record. A emissora fez toda uma mudança em sua grade para privilegiar o noticiário, que, por sua vez, não cumpriu o esperado e contribuiu para uma crise em uma faixa que, mal ou bem, já estava consolidada há anos com enlatados, com o "SP Record", e mais recentemente com a chegada de "Rebelde".


A Record chegou ao ponto de aplicar a arriscada manobra de inverter "Rebelde" com o "Jornal da Record", que já estava há seis anos na faixa entre 20h15 e 20h30. "Rebelde", que apesar de suas idas e vindas, ainda rendia dois dígitos, foi exposta à perigosa faixa das 20h30, na qual o SBT apresentava concorrência mais forte e a Globo apresentava um "Jornal Nacional" no meio de uma novela que já havia engrenado, com índices na casa dos 30 pontos, e outra que entrava em sua reta final. "Rebelde" se saiu bem e surpreendeu a todos, embora o "Jornal da Record" só tenha mantido bons índices em seus primeiros dias.


Os efeitos de Datena prejudicaram também as afiliadas da Record. Na grade antiga, o "RJ Record" registrava até 14 pontos de média e tinha mais que a soma do SBT, Band e RedeTV! no horário. Na atual, Luiz Bacci chega a acumular sucessivas derrotas para o SBT. O "DF Record", de Luiz Carlos Braga, também ostentava índices sempre acima dos 12 pontos e estava desacostumado a lutar por uma vice-liderança que já era garantida. O jornal viu a audiência cair de bico para a casa dos 8 e em terceiro lugar. Até mesmo em Belém, praça a qual a Record garante os melhores índices do país, Datena deixou efeitos negativos.


O telespectador que conhece José Luiz Datena sabe que o profissional é um dos mais queridos pelo público. Sabe que o jornalista cativa em qualquer faixa em que for ao ar. Tanto é verdade que na Band ele era usado como coringa para levantar horários inóspitos. Até mesmo na faixa das 07h da manhã, que durante anos foi ocupada por televendas, Datena já chegou a ser requisitado.


Apesar de todas essas qualidades, é necessário ressaltar algumas questões: a primeira é que a Record contratou um Datena que achava que conhecia e a recíproca era verdadeira. Datena era a estrela da Band e na Record era apenas mais um. O Datena da Band tinha influência até no departamento artístico, pelas vezes em que chegou a fazer parte do "Dia Dia" para levantar seus índices. O Datena da Record não tinha influência total nem mesmo no "Cidade Alerta". Datena achava que estava voltando "para sua casa", mas esqueceu que a sua casa de verdade era aquela deixada em 2002. Aquela em que o departamento de novelas era terceirizado pela JPO Produções, aquela em que o jornalismo se resumia a São Paulo, aquela que enlatados ocupavam o horário nobre em vez de realities de produções milionárias... Hoje, a Record é muito maior que o Datena. E nenhuma das duas partes se deu conta disso.


A Record contratou José Luiz Datena para impulsionar sua grade de programação mas esqueceu de importantes detalhes. Verdade seja dita: Datena nunca, em momento algum, rendeu expressivos índices de audiência fora da capital paulista.


Os índices registrados em praças como Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Recife, Brasília e etc. sempre oscilaram na casa dos 2, 3 ou quem sabe 4 pontos. Nada comparado aos 11 que já chegou a ter em São Paulo ou aos 7 que registrava diariamente. Entretanto, para a Band, estava tudo bem, afinal nada 3 ou 4 pontos nas praças em uma programação que rende 1 ou 2 em grande parte do dia, estava bem aceitável. Mas para a Record não.


A Record perdeu muita audiência por investir em um apresentador e em um programa extremamente paulistanos. E como falei, hoje a Record é maior que o Datena. Logo, nada mais natural que a emissora pressione e adeque a atração. Existem compromissos, objetivos e pelo tanto que se investiu nos últimos dois anos, conquistar 4 pontos no Rio de Janeiro, a segunda praça mais importante do Ibope, era inadmissível. Ainda mais enquanto religiosos da CNT registravam 1 ou 2 pontos de média e o "Chaves" e o "Casos de Família" tinham 10.


De resto, particularmente acredito que a saída de Datena foi o melhor que poderia ter ocorrido à Record. O "Cidade Alerta" passou para o comando de William Travassos e os investimentos continuam. Na terça (2) houve inúmeras matérias recheadas, links ao vivo e tudo que um jornalístico do horário deveria ter. Situação diferente do "Brasil Urgente", que desde a chegada de Faccioli passa um clima de "fim de festa", o qual deverá ser considerado passado dentro de algumas semanas.


Já as justificativas dadas por Datena para ter deixado a Record não convencem. Uma delas falava de "censura", outra de "pressão por audiência" e cheguei até mesmo ler a questão salarial, a qual ainda duvido que ele tenha alegado.


Em primeiro lugar, censura existe em praticamente todas as emissoras de televisão.


Sem discutir o mérito da questão, é algo que existe. E TV não é democracia. Nada mais natural que as emissoras permitam ou proíbam determinados assuntos serem discutidos. Ou alguém aqui acha que um dia o jornalismo da Record vai investigar a Igreja Universal? Ou alguém aqui realmente esperava que na matéria das invasões de praia exibida no "Fantástico" desta semana haveria alguma menção a Luciano Huck? Ou alguém aqui imagina que a Band, um dia que seja, vá revirar o passado da Globo e fazer campanha contra Ricardo Teixeira sendo que o futebol brasileiro, hoje dominado por esses dois nomes, garante audiência e milhões aos seus cofres, dinheiro este que faz toda a diferença na hora de fechar as contas do mês?


A atitude de Datena para com a Record, independente de quem está certo ou errado, mostra que infelizmente a assinatura feita a próprio punho pode ser medida ou comprada por milhões de reais. E o jornalista ainda acha que pode cobrar alguma coisa das "autoridades".

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